sexta-feira, 23 de dezembro de 2011

Boas Festas



Nesta quadra que se aproxima, faço votos de que todos os que me acompanham possam ter um Feliz Natal na presença daqueles que mais estimam.


Faço ainda votos de que o ano de 2012 possa ser melhor que o ano prestes a findar, encerrando em si mesmo muitas Alegrias e Saúde!


Paulo Gomes.

sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

Arriscar



O natural entusiasmo das crianças devia ser conta­giante.


É que elas avançam com os olhos arregalados para a realidade, sem barreiras nem esquemas de defesa. Ficam - por assim dizer - disponíveis para acolher tudo o que se passa. Confiam sem problemas e, quando não sabem, perguntam.~


Pelo contrário, a tendência dos adultos é descon­fiar e defender-se. Muitos vivem como quem leva o cotovelo diante dos olhos para evitar golpes de­sagradáveis ou inesperados da vida, retêm da rea­lidade apenas o que lhes convém e são manhosos perante certas evidências: preferem fechar-se no seu pequeno espaço e recusam surpreender-se com as sugestões que vida traz.


Assim se joga a nossa liberdade: ou (primeira hipó­tese) nos entrincheiramos em esquemas e jogamos à defesa; ou (segunda hipótese) arriscamos como as crianças, de coração simples e olhar escancarado. O mistério do Natal terá sérias dificuldades em flo­rescer na primeira hipótese!

quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

Excedentes...de dívidas!

Pedro Passos Coelho decidiu convocar um Conselho de Ministros extraordinário para o próximo domin­go. Parece que a intenção é explicar melhor o que aí vem. O país agradece. A confusão à volta dos ex­cedentes que há e não há nas contas do Estado não é boa para ninguém.

O Primeiro-ministro tem-se dado ao luxo de falar com uma sinceridade às vezes desarmante, mas alguém devia lembrar-lhe que uma mensagem mal passada, em política, dificilmente se corrige. Passos falou, primeiro, de um desvio colossal nas contas públicas herdadas de Sócrates. Depois, tirou meio vencimento aos portugueses. E seguiu com o corte de dois vencimentos aos funcionários públi­cos.

Arrumado o murro no estômago, o Primeiro-minis­tro veio dizer que a receita extraordinária a que recorreu para cumprir o défice - seis mil milhões das futuras pensões dos bancários - lhe deixou um excedente. Ou uma folga ou almofada, como a opo­sição gosta de dizer. Um excedente, primeiro, de dois mil milhões, e, agora, afinal, de três mil mi­lhões.

Mas se há excedente, porque é que os funcionários públicos não recuperam os seus subsídios, pelo me­nos, o de Natal? - pergunta meio mundo. E Passos Coelho não está a falar claro, como é exigível aos políticos.

Falar de excedentes é um erro de palmatória, que só dá razão aos socialistas, ansiosos por provar que, afinal, havia folga nas contas públicas. E Passos ain­da não disse o óbvio: quando se tem dívidas, não há excedentes! Há dívidas! E começar por pagá-las é o primeiro passo para endireitar a espinha e recupe­rar credibilidade.

A alternativa, a muito breve prazo, seria, para mui­tos, não pagar subsídios nem salários. Alguém explique ao Governo que risque do mapa a palavra "excedentes", pois "eles" não existem. Quando a dor aperta, falar claro é, ainda, mais vital!!!

Mais do mesmo III

Pedro Nuno Santos, deputado, vice-presidente da bancada socialista, propõe que ameacemos os nossos credores externos, que ela acha serem so­bretudo bancos alemães, com não pagar as dívidas. Em pânico, os credores logo nos dariam facilidades, aliviando a austeridade. O presidente da bancada do PS não se demarcou claramente desta proposta, que aliás está em sintonia com o tema central do parti­do: diminuir a austeridade.

É pena que as consequências de tal ameaça e, no limite, de não pa­garmos as dívidas aos credores externos, não sejam propriamente menos austeridade. Se Portugal tomasse tal posição, suspendia-se a vinda do dinheiro da troika. E ficava fechado o já muito difícil e caro acesso a empréstimos externos. Não poderíamos, então, financiar o excesso daquilo que ainda gastamos acima do que pro­duzimos - cerca de 8% do PIB.

Ah! faltava referir um pormenor de pouca importância para o Sr. Pedro Santos, secundado esta semana pelas iluminadas afirmações do ex-PM, Engº José Sócrates:
o Estado não poderia pagar boa parte dos salários e pensões. Os bancos faliam. A economia entraria em total colapso, com o PIB a cair à volta de 40%, as pessoas perderiam cerca de 50% do valor patrimonial detido!!!

Que importa? É esta "redução" de austeridade que o referido deputado quer? Pelos vistos o PS não aprendeu nada com os últimos anos da desastrada governação? Há alguém que lhes explique, p.f.?....

quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

Mais do mesmo II



Não pude deixar de sorrir quando, há dias, vi uma notícia de primeira página sobre o ministro que andava de vespa que se deixou seduzir pelo conforto de um carrão de luxo.


Tinha nessa mesma manhã ouvido o desmentido indignadíssimo do gabinete do ministro, amplamente difundido pela Cibéria via facebook e blogues: que não, que não foi o ministro que pediu a viatura, que a coisa já estava pedida pelo antecessor, que se limitou a recebê-la da central de compras do Estado em substituição da que lhe fora destinada, a qual, como os iogurtes, tinha já passado de prazo e ameaçava envenenar!!!


Pois tal desmentido não se substituiu à notícia bombástica da troca da vespa pelo carrão. Como era, aliás, previsível. O episódio, em si mesmo, não vale um caracol. A não ser para provar que medidas que se tomam (como a de proibir gravatas para poupar energia) ou imagens que se querem passar (chegar de vespa ao conselho de ministros) colhem a simpatia dos gestos populistas. Mas como todos os populismos e demagogias viram-se mais cedo que tarde contra quem as utiliza!


Recorda-se o desmentido e a indignação dos apaniguados e não há como não perguntar: mas quem semeia estes ventos pode indignar-se pela tempestade que aí vem!?....

Mais do mesmo

António José Seguro defendeu ontem que o corte no subsídio de Natal deste ano era evitável se se recorresse à transferência dos fundos de pensões da Banca.

Seria realmente bom que tal fosse evitável, mas nunca com esta proposta de solução. Seguro mostra não estar à altura de quem aspira ser Primeiro Ministro. Numa situação tão adversa, pretender manter a linha da cosmética contabilista histórica em Portugal, como solução para um problema orçamental estrutural.

É de uma gritante irresponsabilidade e incompetência. Estas operações, deviam ser neutrais do ponto de vista do défice orçamental pois não só transferem em simultâneo activos, como elevadas e suicidas responsabilidades financeiras presentes e futuras.

Foi o continuado recurso a este tipo de expediente que permitiu a permanente camuflagem de décadas de despesismo público e gestão danosa, que nos lançaram na actual situação financeira e por consequência económica.

Todos - e aqui não há inocentes nos PS, PSD e CDS - os políticos que tomaram essas decisões desastrosas, é que são os verdadeiros culpados de todos estes sacrifícios, com aumento de impostos, cortes sem precedentes nas regalias sociais e nos direitos que julgávamos adquiridos.

O que posso afirmar a José António Seguro, é que, os sacrifícios são inevitáveis. Não tenho é a certeza que as actuais medidas de austeridade preconizadas nos vão levar a bom porto. No entanto, tenho três certezas:

1-Não é com as operações de cosmética do défice propostas por Seguro que vamos lá, definitivamente;

2-Os sacrifícios não deveriam recair sempre sobre os mesmos, invariavelmente;

3-Por uma vez, ao menos, deveriam ser apurados os responsáveis pela situação em que nos encontramos.



Mas não tenho muitas esperanças....estamos em Portugal e ninguém aprende com os erros passados!

domingo, 27 de novembro de 2011

Is this really the end?

EVEN as the euro zone hurtles towards a crash, most people are assuming that, in the end, European leaders will do whatever it takes to save the single currency. That is because the consequences of the euro’s destruction are so catastrophic that no sensible policymaker could stand by and let it happen.(...) This cannot go on for much longer. Without a dramatic change of heart by the ECB and by European leaders, the single currency could break up within weeks.(...) Can anything be done to avert disaster? The answer is still yes, but the scale of action needed is growing even as the time to act is running out. The only institution that can provide immediate relief is the ECB. As the lender of last resort, it must do more to save the banks by offering unlimited liquidity for longer duration against a broader range of collateral. Even if the ECB rejects this logic for governments—wrongly, in our view—large-scale bond-buying is surely now justified by the ECB’s own narrow interpretation of prudent central banking. (...)





sexta-feira, 25 de novembro de 2011

Austeridade é receita para suicídio económico?


O prémio Nobel da Economia em 2001 e antigo vice-presidente do Banco Mundial, Joseph Stiglitz, afirmou na quinta-feira que as políticas de austeridade constituem uma receita para "menos crescimento e mais desemprego". Stiglitz considerou que a adopção dessas políticas "correspondem a um suicídio" económico.

......

"Em economia, há um princípio elementar a que se chama efeito multiplicador do orçamento equilibrado: se o governo sobe os impostos mas, ao mesmo tempo, gasta o dinheiro que recebe dos impostos, isto tem um efeito multiplicador sobre a economia", explicou, apresentando a sua receita para sair da crise.

sexta-feira, 18 de novembro de 2011

Anedota do dia...

Passos Coelho propõe:


Vitor, que tal enviarmos as Boas Festas a todos os Contribuinte, desejando um Feliz e Próspero Ano de 2012?

quinta-feira, 17 de novembro de 2011

Uma outra forma de dizer as "coisas"



"A trapeira do Job

Isto que eu vou dizer vai parecer ridículo a muita gente.

Mas houve um tempo em que as pessoas se lembravam, ainda, da época da infância, da primeira caneta de tinta permanente, da primeira bicicleta, da idade adulta, das vezes em que se comia fora, do primeiro frigorífico e do primeiro televisor, do primeiro rádio, de quando tinham ido ao estrangeiro.

Houve um tempo em que, nos lares, se aproveitava para a refeição seguinte o sobejante da refeição anterior, em que, com ovos mexidos e a carne ou peixe restante se fazia "roupa velha". Tempos em que as camisas iam a mudar o colarinho e os punhos do avesso, assim como os casacos, e se tingia a roupa usada, tempos em que se punham meias solas com protectores. Tempos em que ao mudar-se de sala se apagava a luz, tempos em que se guardava o "fatinho de ver a Deus e à sua Joana".

E não era só no Portugal da mesquinhez salazarista. Na Inglaterra dos Lordes, na França dos Luíses, a regra era esta. Em 1945 passava-se fome na Europa, a guerra matara milhões e arrasara tudo quanto a selvajaria humana pode arrasar.

Houve tempos em que se produzia o que se comia e se exportava. Em que o País tinha uma frota de marinha mercante, fábricas, vinhas, searas.

Veio depois o admirável mundo novo do crédito.

Os novos pais tinham, como filhos, uns pivetes tiranos, exigindo malcriadamente o último modelo de mil e um gadgets e seus consumíveis, porque os filhos dos outros também tinham. Pais que se enforcavam por carrões de brutal cilindrada para os encravarem no lodo do trânsito e mostrarem que tinham aquela extensão motorizada da sua potência genital. Passou a ser tempo de gente em que era questão de pedigree viver no condomínio fechado e sobretudo dizê-lo, em que luxuosas revistas instigavam em couché os feios a serem bonitos, à conta de spas e de marcas, assim se visse a etiqueta, em que a beautiful people era o símbolo de status, como a língua nos cães para a sua raça.

Foram anos em que o campo se tornou num imenso resort de turismo de habitação, as cidades uma festa permanente, entre o coktail party e a rave. Houve quem pensasse até que, um dia, os serviços seriam o único emprego futuro ou com futuro.

O país que produzia o que comíamos ficou para os labregos dos pais e primos parolos, de quem os citadinos se envergonhavam, salvo quando regressavam à cidade, vindos dos fins de semana com a mala do carro atulhada do que não lhes custara a cavar e, às vezes, nem obrigado.

O país que produzia o que se podia transaccionar, esse, ficou com o operariado da ferrugem, empacotados como gado em dormitórios e que os víamos chegar, mortos de sono logo à hora de acordarem, as casas verdadeiras bombas relógio de raiva contida, descarregada nos cônjuges, nos filhos, na idiotização que a TV tornou negócio.

Sob o oásis dos edifícios em vidro, miragem de cristal, vivia o mundo subterrâneo de quantos aguentaram isto enquanto puderam, a sub-gente.

Os intelectuais burgueses teorizavam, ganzados de alucinação, que o conceito de classes sociais tinha desaparecido. A teoria geral dos sistemas supunha que o real era apenas uma noção, a teoria da informação substituía os cavalos-força da maquinaria industrial pelos megabytes de RAM da computação universal. Um dia, os computadores tudo fariam, o ser humano tornava-se um acidente no barro de um oleiro velho e tresloucado que, caído do Céu, morrera pregado a dois paus, e que julgava chamar-se Deus, confundindo-se com o seu filho unigénito e mais uma trinitária pomba.

Às tantas, os da cidade começaram a notar que não havia portugueses a servir à mesa, porque estávamos a importar brasileiros, que não havia portugueses nas obras, porque estávamos a importar negros e eslavos.
A chegada das lojas dos trezentos já era alarme de que se estava a viver de pexibeque, mas a folia continuava. A essas sucedeu a vaga das lojas chinesas, porque já só havia para comprar «balato». Mas o festim prosseguia e, à sexta-feira, as filas de trânsito nas cidades eram o caos e, até ao dia quinze, os táxis não tinham mãos a medir.

Fora disto, os ricos, os muito ricos, viram chegar os novos ricos. O ganhão alentejano viu sumir o velho latifundário absentista, trocado pelo novo turista absentista com o mesmo monte, mais a piscina e seus amigos, intelectuais claro, e sempre pela reforma agrária e vai um uísque de malte, sempre ao lado do povo e já leu o New Yorker?

A agiotagem financeira essa ululava. Viviam do tempo, exploravam o tempo, do tempo que só ao tal Deus pertencia mas, esse, Nietzsche encontrara-o morto em Auschwitz. Veio o crédito ao consumo, a conta-ordenado, veio tudo quanto pudesse ser o ter sem pagar. Porque nenhum banco quer que lhe devolvam o capital mutuado quer é esticar ao máximo o lucro que esse capital rende.

Aguilhoando pela publicidade enganosa os bois, que somos nós todos, os bancos instigavam à compra, ao leasing, ao renting ao seja como for desde que tenha e já, ao cartão, ao descoberto autorizado.
Tudo quanto era vedeta deu a cara, sendo actor, as pernas, sendo futebolista, ou o que vocês sabem, sendo o que vocês adivinham, para aconselhar-nos a ir àquele balcão bancário buscar dinheiro, vender-mo-nos ao dinheiro, enforcar-mo-nos na figueira infernal do dinheiro. Satanás ria. O Inferno começava na terra.

Claro que os da política do poder, que vivem no pau de sebo perpétuo do fazear arrear, puxando-os pelos fundilhos, quantos treparam para o mando, querem a canalha contente. E o circo do consumo, a palhaçada do crédito servia-os. Com isso comprávamos os plasmas mamutes onde eles vendiam à noite propaganda governamental, e nos intervalos, imbelicidades e telefofocadas que entre a oligofrenia e a debilidade mental a diferença é nula. E contentes, cretinamente contentinhos, os portugueses tinham como tema de conversa a telenovela da noite, o jogo de futebol do dia e da noite e os comentários políticos dos "analistas" que poupavam os nossos miolos de pensarem, pensando por nós.

Estamos nisto.

Este fim de semana a Grécia pode cair. Com ela a Europa. Mas que interessa? O Império Romano já caiu também e o mundo não acabou. Nessa altura, em Bizâncio, discutia-se o sexo dos anjos. Talvez porque Deus se tivesse distraído com a questão teológica, talvez porque o Diabo tenha ganho aos dados a alma do pobre Job na sua trapeira. O Job que somos grande parte de nós."

Publicada por

José António Barreiros

terça-feira, 9 de agosto de 2011

Não são anarquistas, são os contagiados pela crise



A violência que alastra pelos bairros de Londres apresenta como denominador comum jovens, de caras tapadas com lenços e alguns deles trajando de negro. O suficiente para um dos nossos canais de televisão ter alvitrado, na tarde de ontem, que eram anarquistas. Valha-nos Santa Engrácia! Quanto à violência, essa, tem sido a típica dos motins em meios urbanos: incêndios e pilhagens num toca e foge difícil para as forças policiais.


Em primeiro lugar, é preciso recordar que a polícia londrina ainda ostenta a fama de ser bem mais preventiva que repressiva. Podemos, deste ponto de vista, estar descansados em matéria de uso relativo da força. Só não terá ideia disto quem nunca passou um fim-de-semana na capital inglesa.


Em segundo lugar, é preciso recordar que a Inglaterra é um grande país de acolhimento de emigrantes, incluindo compatriotas nossos, e que Londres é verdadeiramente exponencial na exibição que faz dessa combinação de raças, credos e modos de vida. Uma combinação luxuriante em tempos de vacas gordas mas que rapidamente pode descambar em pequenos ódios de estimação capazes de alimentar todas as rixas e descambar mesmo em batalhas campais quando o posto de trabalho passa a ser disputado como se fosse o último lugar à mesa e as regalias do modelo social europeu vão desaparecendo do mapa desta terra prometida.


Sejamos, pois, prudentes. Londres é já ali... O modo como desordens sociais alastram rapidamente em grandes centros urbanos como Londres ou Paris ou Madrid tem dado pano para mangas nas mãos de alguns alfaiates da análise política sempre predispostos a etiquetar tudo e todos. E também a retirar conclusões susceptíveis de alinhar mundividências, geralmente moralistas e sobretudo convenientes a uma certa ideia superior de eurocentrismo. Gente que pretende resolver a intrincada equação dos imigrantes exclusivamente à custa das necessidades dos que chegam sem cuidar de conferir quanto os europeus se serviram deles para garantir superiores padrões de vida, rejeitando trabalhos sujos, precários e duros.


Quando a violência principiou em Tottenham, há três dias, em causa não parecia estar nenhum dos factores sociais negativos da crise, mas, passados três dias, já ninguém acredita que os incêndios, as pilhagens, os feridos e os detidos continuem a alastrar apenas por efeito de um confronto meio anarquista entre jovens e polícias.


Quem assim pensar não irá certamente a tempo de contribuir positivamente para que a crise económico-financeira não contamine os tecidos sociais do multiculturalismo europeu."


Manuel Tavares, in "Jornal de Notícias" de 09/08/2011.

sexta-feira, 5 de agosto de 2011

A gravata...

O acto de abolir as gravatas nos Ministérios de Assunção Cristas não se traduz apenas num acto de se poder andar nos Ministérios sem gravata. É coisa muito mais transcendente. O novo abolicionismo passou a ser um acto "que se poderá traduzir na emergência de novas masculinidades, essas sim fundamentais para mudar de paradigma".

Em itálico, palavras de Elza Pais, Deputada e Doutoranda na Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa na área da violência doméstica.

Por mim, fui mesmo violentado pela Doutoranda. Fui e continuo a ser. Continuo sem perceber a grandiosidade da frase!...

Por mim, não alcanço a grandiosidade da medida tomada. Termino até com um comentário que um Cliente proferiu numa recente reunião de trabalho que tivemos, a propósito desta alteração:

"A medida foi muito bem vinda, de facto o Ministério da Agricultura começou a trabalhar de uma forma mais desenvolta e eficaz! Pois consta que as senhoras - a coberto dos mesmos argumentos - também foram aconselhadas a prescindir das blusas e portanto aquilo agora é só trabalhar!..."

quarta-feira, 3 de agosto de 2011

Exames, um bicho antidemocrático!

O ministro Nuno Crato já anunciou que irá reforçar os exames ao longo do percurso escolar dos alunos.


Completamente de acordo. À distância constato que o nível de exigência de estudo e de trabalho tem sido reduzido de forma drástica nos últimos anos - seguramente 10 anos - em clara oposição com uma aprendizagem que se deseja responsável e sólida!


Mas alguém se admira com as críticas do Bloco de Esquerda e do PCP? O Bloco de Esquerda argumenta que os exames mostram "falta de confiança" no trabalho realizado pelos professores ao longo do ano. O PCP afirma que a "injustiça" dos exames é "evidente" enquanto o Governo não puder garantir "condições iguais", transformando "escolas em centros de formação profissional" e professores em "treinadores" de alunos para responder aos exames.


Argumentos próprios de quem defende o nivelamento por baixo. A ideologia do facilitismo provou o pior.


Agora é tempo de mudar de vida. Mais do que nunca precisamos de um sistema de ensino que ajude a preparar os jovens para os desafios do futuro. Não basta fazer contas de somar com máquina de calcular. O que precisamos, mesmo, é de alterar métodos de trabalho, incutir exigência e empenho e promover uma cultura de responsabilidade. E neste caso não há inocentes...a começar pelos sucessivos governos, passando pelos professores e alunos e terminando nos pais!

terça-feira, 26 de julho de 2011

onde está o dinheiro?

1.Achei muito curiosa, por diversos motivos que a seguir explanarei, a posição publicamente manifestada por alguns banqueiros da nossa praça, reivindicando o pagamento das dívidas de que são credores perante o Estado e que este terá acumulado ao longo dos últimos anos.


2.E achei curiosa, em 1º lugar pela forma como foi manifestada essa posição, a qual poderá levar algumas pessoas menos prevenidas a crer que o Estado terá utilizado o crédito bancário contra a vontade dos bancos, o que seria no mínimo surpreendente...não creio que tal tenha sucedido, os bancos financiaram o Estado porque quiseram, porque acharam na altura que seria bom negócio, ninguém lhes terá imposto tal crédito à força...


3.Em 2º lugar, porque não me recordo de uma posição destas dos bancos nos últimos anos, em especial nos últimos 6 em que eles foram especialmente pródigos em conceder crédito ao Estado, enchendo os seus balanços com “toneladas” de dívida pública, crédito a empresas públicas e a parcerias público-privadas...


4.Houve mesmo alguns que ainda não há muito tempo elogiaram publicamente a política de grandes obras públicas, dizendo que era benéfica para o desenvolvimento do País – e que, a ter continuidade, teria levado o Estado a endividar-se ainda mais pesadamente junto da banca...


5.Em 3º lugar, porque as dívidas do Estado perante estes bancos têm, como quaisquer outras, prazos de vencimento, que o Estado não poderá deixar de cumprir, sob pena de ser considerado em “default”...assim aos bancos basta-lhes aguardar pelo vencimento das dívidas do Estado, exigir o reembolso e fica satisfeita a sua vontade...


6.Em 4º lugar porque o Estado não deve apenas aos bancos , também deve às empresas não financeiras – industriais (de construção com especial destaque), comerciais e de serviços – e nestes casos sim, o Estado tem acumulado atrasos de pagamento que são imorais e altamente perversos para o funcionamento normal da actividade económica, gerando fenómenos de endividamento em cadeia (efeito dominó) e arrastando não poucas empresas para a insolvência...7


7.Os bancos poderiam ter-se referido a esta última situação, que também os afecta, pois as dificuldades financeiras das empresas decorrentes dos atrasos do Estado acabam também por se reflectir na sua relação com os bancos, dificultando o cumprimento das suas obrigações financeiras...


8.Em 5º lugar, porque as reclamações dos banqueiros contrastaram com as declarações do Governador do BdeP que aconselhou os bancos a desfazerem-se de activos como forma de reduzir a sua alavancagem e libertarem recursos para a concessão de crédito à economia...


9.Em 6º e último lugar porque eles não ignoram que o Estado, ainda que quisesse pagar aos bancos tudo o que lhes deve nesta altura...não teria obviamente dinheiro para isso! Só se os mesmos bancos lhe emprestassem para ele lhes pagar de volta...


10.Muito curiosa mesmo esta posição dos banqueiros, depois de anos de silêncio...o que os terá movido a manifestar tal posição? Saberão que existe dinheiro escondido nalgum lado?

segunda-feira, 25 de julho de 2011

Ligações perigosas...

Que diferença faz pagar com bilhetes para ir ao futebol ou com um “curso de formação” numa ilha paradisíaca do Pacífico? A razão é a mesma. O suborno e a prescrição de medicamentos.



Os incentivos e os prémios é que variam. As viagens são um esquema há muito conhecido. Das playstations confesso que nunca tinha ouvido falar. Deve ser uma inovação. Para quê prometer muito se quem recebe se contenta com pouco.


É uma vergonha. E sobre o sancionamento destes crimes nem vale a pena dizer nada…

sábado, 23 de julho de 2011

Execução orçamental até Junho: cenário de RISCO, para o cumprimento do défice...

1.Com a divulgação dos dados da execução orçamental até Junho,começa a perceber-se que a redução do défice das Administrações Públicas (Central, Regional e Local) para 5,9% do PIB constitui uma tarefa carregada de RISCOS...


2.Com efeito, concluiu-se agora que a “espectacular “ redução do défice das Administrações Centrais até Maio, reportada pelo anterior Governo no último dia do mandato – de 89,3% (!) com referência ao mesmo período de 2010 – era não apenas “espectacular” mas também virtual...


3.Até Junho, com base em dados bem mais realistas, constata-se uma redução do défice das Administrações Centrais de 33,8% - podendo por exemplo referir-se que só em Junho foram contabilizados encargos com a dívida pública de quase 3 vezes o montante total que tinha sido contabilizado de Janeiro a Maio...até Maio eram € 870 milhões (a famosa técnica de empurrar os juros para a frente...), até Junho são já € 3.008 milhões e mesmo assim menos de 50% do montante orçamentado para o ano (46,7%)...


4.Este ritmo de redução do défice, de 33,8%, caso fosse mantido até final do ano propiciaria um défice da ordem de 6,5% do PIB ou seja 0,6% acima do objectivo...


5.Considerando que a receita do novo imposto extraordinário a arrecadar em 2011 será de € 850 milhões, um pouco menos de 0,5% do PIB, temos pois o objectivo do défice quase à vista...mas muito “à pele”!


6.Mas há que ter em conta que a hipótese de manutenção do ritmo de redução do défice de 33,8% até final do ano é optimista, uma vez que temos estado a assistir a uma rápida desaceleração do crescimento da receita fiscal.


7.Basta dizer que até final de Abril a receita fiscal do Estado crescia 14,9%, até final de Junho a taxa de crescimento já caiu para 5,3%... em dois meses apenas uma desaceleração brutal...


8.E nada nos deverá surpreender que a receita fiscal até ao final do ano, sem considerar o efeito do novo imposto extraordinário, continue a desacelerar como consequência da contracção da actividade económica...


9.Configura-se assim um cenário em que muito provavelmente o Governo terá que lançar mão de medidas especiais de contenção da despesa primária durante o 2º semestre, para evitar uma derrapagem no cumprimento do objectivo de 5,9% do PIB, que seria, manifestamente, a “morte do artista”...


10.Temos assim um cenário de alto RISCO, em que toda a atenção será pouca...percebendo-se também melhor o voto contra o novo imposto extraordinário por parte do PS, uma vez que a consideração do RISCO é qualquer coisa que tem estado sempre ausente nos cenários ROSA...

quinta-feira, 21 de julho de 2011

Aumentos dos preços dos transportes: imprescindíveis, mas é preciso também um PAI...

1.O novo Governo lá vai tomando as medidas previstas no acordo com FMI e U. Europeia, chegando agora a vez dos preços dos transportes públicos, depois do anúncio do imposto extraordinário sobre rendimentos englobados no IRS.


2.Este aumento do preço dos transportes públicos impressiona pela sua expressão relativa – entre 15 a 20% - mas é preciso reconhecer que chega com um enorme atraso, depois do anterior governo ter deixado irresponsavelmente o sector dos transportes públicos a um estado de penúria financeira dificilmente imaginável...


3.Este aumento, apesar de muito duro é também e muito provavelmente insuficientíssimo para resolver o problema do brutal desequilíbrio de exploração e o estrangulamento financeiro a que chegaram as empresas públicas deste sector.


4.Segundo números recentemente divulgados, os prejuízos das empresas públicas do sector dos transportes em 2010 terão ultrapassado os € 1.000 milhões, um valor “record” mas provavelmente subavaliado, denunciando uma situação caótica que tem exigido já, em diversos casos – Refer e Metro do Porto pelo menos – a intervenção directa do Tesouro para solver os compromissos financeiros das empresas, uma vez que o crédito bancário lhes foi cortado...


5.Essa intervenção directa do Tesouro representa um retrocesso de cerca de 25 anos, pois foi em 1986, que as operações de financiamento directo do Tesouro às empresas públicas foram suspensas, passando essas empresas a financiar-se no mercado como as demais.


6.Por isso digo que este aumento, apesar de muito elevado, será ainda insuficiente para ultrapassar os enormes desequilíbrios de exploração e corrigir os níveis brutais de endividamento que as empresas públicas deste sector foram acumulando ao longo de anos a fio...a ver vamos!


7.Há todavia um outro aspecto que não pode ser escamoteado e ao qual o Governo terá de prestar a máxima atenção: estas empresas e em especial os seus dirigentes e quadros superiores não podem continuar a fazer de conta que nada se passa, gastando rios de dinheiro em despesas supérfluas, nomeadamente automóveis e cartões de crédito para uso pessoal, bem como distribuindo benefícios injustificados a empregados (como seja a utilização gratuita do serviço pelos mesmos e seus familiares próximos e remotos)...


8.Trata-se de uma questão de elementar moralidade, que requer um plano também duro e inflexível de aplicação de medidas de poupança, a começar por cortes drásticos nas mordomias que têm sido distribuídas a esmo pelos quadros dirigentes dessas empresas.


9.É indispensável pois que o Governo não perca tempo a definir um Plano de Austeridade Interno (PAI) para estas empresas que contribua, para além dos aumentos dos preços, para o objectivo de reduzir os desequilíbrios económicos e a insuportável dependência financeira das mesmas...

segunda-feira, 18 de julho de 2011

Imposto Extraordinário....para os mesmos de sempre!

Segundo o Ministro das Finanças, três milhões de famílias (65%) não serão "afectadas" pelo imposto extraordinário, 80% dos pensionistas não serão afectados pelo imposto extraordinário, 10% dos trabalhadores dependentes irão pagar 60% da receita prevista de 1025 milhões de euros do extraordinário imposto.

Não é um retrato de justiça fiscal, nem social, devia aliás ser abolida a palavra “justiça” quando se fala em sobretaxas, impostos extraordinários ou as mil e uma formas de ir cortando os proventos de quem (ainda) trabalha, esforçando-se por não se afundar em dívidas.

É o retrato de um país cada vez mais pobre, serão cada vez menos os que “podem” pagar, e cada vez mais os que dependem de salários mínimos, de pensões mínimas, de subsídios que escasseiam, de solidariedades que não chegam para todos.

Um duro retrato social. Ao que chegámos.

terça-feira, 29 de março de 2011

Porque silenciam a ISLÂNDIA?

"Estamos neste estado lamentável por causa da corrupção interna – pública e privada com incidência no sector bancário – e pelos juros usurários que a Banca Europeia nos cobra. Sócrates foi dizer à Sra. Merkle – a chanceler do Euro – que já tínhamos tapado os buracos das fraudes e que, se fosse preciso, nos punha a pão e água para pagar os juros ao valor que ela quisesse.

Por isso, acho que era altura de falar na Islândia, na forma como este país deu a volta à bancarrota, e porque não interessa a certa gente que se fale dele. Não é impunemente que não se fala da Islândia (o primeiro país a ir à bancarrota com a crise financeira) e na forma como este pequeno país perdido no meio do mar, deu a volta à crise. Ao poder económico mundial, e especialmente o Europeu, tão proteccionista do sector bancário, não interessa dar notícias de quem lhes bateu o pé e não alinhou nas imposições usurárias que o FMI lhe impôs para a ajudar.


Em 2007 a Islândia entrou na bancarrota por causa do seu endividamento excessivo e pela falência do seu maior Banco que, como todos os outros, se afogou num oceano de crédito mal parado. Exactamente os mesmo motivos que tombaram com a Grécia, a Irlanda e Portugal. A Islândia é uma ilha isolada com cerca de 320 mil habitantes, e que durante muitos anos viveu acima das suas possibilidades graças a estas “macaquices” bancárias, e que a guindaram falaciosamente ao 13º no ranking dos países com melhor nível de vida (numa altura em que Portugal detinha o 40º lugar).


País novo, ainda não integrado na UE, independente desde 1944, foi desde então governado pelo Partido Progressista (PP), que se perpetuou no Poder até levar o país à miséria. Aflito pelas consequências da corrupção com que durante muitos anos conviveu, o PP tratou de correr ao FMI em busca de ajuda. Claro que a usura deste organismo não teve comiseração, e a tal “ajuda” ir-se-ia traduzir em empréstimos a juros elevadíssimos (começariam nos 5,5% e daí para cima), que, feitas as contas por alto, se traduziam num empenhamento das famílias islandesas por 30 anos, durante os quais teriam de pagar uma média de 350 Euros / mês ao FMI. Parte desta ajuda seria para “tapar” o buraco do principal Banco islandês.


Perante tal situação, o país mexeu-se, apareceram movimentos cívicos despojados dos velhos políticos corruptos, com uma ideia base muito simples: os custos das falências bancárias não poderiam ser pagos pelos cidadãos, mas sim pelos accionistas dos Bancos e seus credores. E todos aqueles que assumiram investimentos financeiros de risco, deviam agora aguentar com os seus próprios prejuízos. O descontentamento foi tal que o Governo foi obrigado a efectuar um referendo, tendo os islandeses, com uma maioria de 93%, recusado a assumir os custos da má gestão bancária e a pactuar com as imposições avaras do FMI. Num instante, os movimentos cívicos forçaram a queda do Governo e a realização de novas eleições.


Foi assim que em 25 de Abril (esta data tem mística) de 2009, a Islândia foi a eleições e recusou votar em partidos que albergassem a velha, caduca e corrupta classe política que os tinha levado àquele estado de penúria. Um partido renovado (Aliança Social Democrata) ganhou as eleições, e conjuntamente com o Movimento Verde de Esquerda, formaram uma coligação que lhes garantiu 34 dos 63 deputados da Assembleia). O partido do poder (PP) perdeu em toda a linha. Daqui saiu um Governo totalmente renovado, com um programa muito objectivo: aprovar uma nova Constituição, acabar com a economia especulativa em favor de outra produtiva e exportadora, e tratar de ingressar na UE e no Euro logo que o país estivesse em condições de o fazer, pois numa fase daquelas, ter moeda própria (coroa finlandesa) e ter o poder de a desvalorizar para implementar as exportações, era fundamental.


Foi assim que se iniciaram as reformas de fundo no país, com o inevitável aumento de impostos, amparado por uma reforma fiscal severa. Os cortes na despesa foram inevitáveis, mas houve o cuidado de não “estragar” os serviços públicos tendo-se o cuidado de separar o que o era de facto, de outro tipo de serviços que haviam sido criados ao longo dos anos apenas para serem amamentados pelo Estado. As negociações com o FMI foram duras, mas os islandeses não cederam, e conseguiram os tais empréstimos que necessitavam a um juro máximo de 3,3% a pagar nos tais 30 anos. O FMI não tugiu nem mugiu. Sabia que teria de ser assim, ou então a Islândia seguiria sozinha e, atendendo às suas características, poderia transformar-se num exemplo mundial de como sair da crise sem estender a mão à Banca internacional. Um exemplo perigoso demais.


Graças a esta política de não pactuar com os interesses descabidos do neo-liberalismo instalado na Banca, e de não pactuar com o formato do actual capitalismo (estado de selvajaria pura) a Islândia conseguiu, aliada a uma política interna onde os islandeses faziam sacrifícios, mas sabiam porque os faziam e onde ia parar o dinheiro dos seus sacrifícios, sair da recessão já no 3º Trimestre de 2010. O Governo islandês (comandado por uma senhora de 66 anos) prossegue a sua caminhada, tendo conseguido sair da bancarrota e preparando-se para dias melhores. Os cidadãos estão com o Governo porque este não lhes mentiu, cumpriu com o que o referendo dos 93% lhe tinha ordenado, e os islandeses hoje sabem que não estão a sustentar os corruptos banqueiros do seu país nem a cobrir as fraudes com que durante anos acumularam fortunas monstruosas. Sabem também que deram uma lição à máfia bancária europeia e mundial, pagando-lhes o juro justo pelo que pediram, e não alinhando em especulações. Sabem ainda que o Governo está a trabalhar para eles, cidadãos, e aquilo que é sector público necessário à manutenção de uma assistência e segurança social básica, não foi tocado. Os islandeses sabem para onde vai cada cêntimo dos seus impostos.


Não tardarão meia dúzia de anos, que a Islândia retome o seu lugar nos países mais desenvolvidos do mundo. O actual Governo Islandês, não faz jogadas nas costas dos seus cidadãos. Está a cumprir, de A a Z, com as promessas que fez. Se isto servir para esclarecer uma única pessoa que seja deste pobre país aqui plantado no fundo da Europa, que por cá anda sem eira nem beira ao sabor dos acordos milionários que os seus governantes acertam com o capital internacional, e onde os seus cidadãos passam fome para que as contas dos corruptos se encham até abarrotar, já posso dar por bem empregue o tempo que levei a escrever este artigo."


Por Francisco Gouveia, Eng.º

quinta-feira, 24 de março de 2011

Já está!

O candidato à sucessão de José Sócrates garante uma estratégia de médio prazo o mais abrangente possível. Uma estratégia verdadeiramente nacio­nal, como Pedro Passos Coelho gosta de lhe cha­mar. E a ideia é boa.

Diluir crispações, acertar receitas para a doença e concertar esforços é vital para sair do pântano. Mas é dificílimo.

Se Sócrates perder as eleições e sair, o caminho fica mais aberto. Se Sócrates perder e ficar (e não é impossível) o bloqueio continua! E também não é certo que Passos Coelho, se ganhar, consiga ter o PS ao seu lado nas questões essenciais sem que isso crie fracturas nos socialistas. Cavaco pode ajudar. Desde que não lhe seja retirada margem de manobra, como agora sucedeu! Desta vez, ou o Presidente ajuda ou os amplos consensos, vitais para fazer o mais difícil, podem nunca acontecer. Sócrates caiu, mas o pior ainda não co­meçou.

Pedagogia no fim


"Temos que poupar. Temos que gastar menos". "Temos de flexibi­lizar o mercado laboral". "O aumento de impostos é incontorná­vel". "Precisamos de pedir mais sacrifícios aos portugueses".

Estas frases foram ontem ditas pelo ainda ministro das Finanças, Teixeira dos Santos, no debate parlamentar sobre o PEC IV. Quan­do soube que ia para a rua, o Governo começou a dizer a verdade. Na 25° hora iniciou a pedagogia da crise, que Sócrates sempre recusara fazer, apesar das exortações de Mário Soares.

Por exemplo, em 2008, ano de eleições, Sócrates traçava um pa­norama cor-de-rosa da nossa situação. Baixou o IVA e subiu 2,9% a função pública. Ora nesse ano o desequilíbrio externo de Portugal atingiu 12,6% do PIB. Mas o Governo ignorava o endividamento externo. Os problemas que se faziam sentir atribuía-os à crise in­ternacional. Só que há onze anos o défice da balança corrente do país já equivalia a 10% do PIB, sem crise internacional.

O optimismo balofo marcou o discurso governamental até há pou­cas semanas: antes, sucediam-se os êxitos. Ontem, o PS entrou em campanha eleitoral."

Francisco Sarsfield Cabral, Jornalista

quarta-feira, 23 de março de 2011

segunda-feira, 14 de março de 2011

Cocktail de Mentiras e Incompetência

Perante o descalabro das contas de 2009 e do maior défice “democrático” de sempre, por razões eleitorais e que o Governo negou até ao fim, aconteceu o seguinte:

21 de Março de 2010: PEC 1. Sócrates e Teixeira dos Santos anunciam não serem necessárias mais medidas restritivas e mais impostos.
16 de Junho de 2010: PEC 2. Sócrates e Teixeira dos Santos anunciam não serem necessárias mais medidas restritivas e mais impostos.
10 de Outubro de 2010: PEC 3. Sócrates e Teixeira dos Santos anunciam não serem necessárias mais medidas restritivas e mais impostos.

Dezembro de 2010: Sócrates e Teixeira dos Santos anunciam a integração na Segurança Social do Fundo de Pensões da PT. Para disfarçar um défice descontrolado

Fevereiro de 2011: Sócrates e Teixeira dos Santos anunciam que as contas públicas de Janeiro são um êxito total.

Março de 2011: Sócrates e Teixeira dos Santos anunciam que as contas públicas de Fevereiro confirmam o êxito de Janeiro.

11 de Março de 2011: PEC IV. Sócrates e Teixeira dos Santos dizem que é para prevenir eventuais dificuldades orçamentais, negando os êxitos de Janeiro e Fevereiro.

Anúncio agora à socapa, em Bruxelas, sem dizer nada ao Parlamento, aos Partidos, excepto um telefonema apressado ao PSD e ao próprio Presidente da República. Trata-se de mais um pacote de austeridade, congelando pensões, mesmo dos mais humildes, mas mantendo despesas surpéfluas e inúteis. Aumentando o IVA, mesmo dos bens de 1ª necessidade, mas mantendo TGVs e similares.

Em resumo: Não acertam uma única previsão! Não falam verdade!! Brincam connosco!!! Deixaram, há muito, de ser dignos de qualquer confiança!...

domingo, 13 de março de 2011

Nada será como antes...




Eu já estou com o pé nessa estrada
Qualquer dia a gente se vê
Sei que nada será como antes amanhã

Elis Regina, "Nada será como antes"

sábado, 12 de março de 2011

"Este é o maior fracasso da democracia portuguesa"

"Não admira que num país assim emerjam cavalgaduras, que chegam ao topo, dizendo ter formação, que nunca adquiriram, (Olá! camaradas Sócrates...Olá! Armando Vara...), que usem dinheiros públicos (fortunas escandalosas) para se promoverem pessoalmente face a um público acrítico, burro e embrutecido.

Este é um país em que a Câmara Municipal de Lisboa, em governação socialista, distribui casas de RENDA ECONÓMICA - mas não de construção económica - aos seus altos funcionários e jornalistas, em que estes últimos, em atitude de gratidão, passaram a esconder as verdadeiras notícias e passaram a "prostituir-se" na sua dignidade profissional, a troco de participar nos roubos de dinheiros públicos, destinados a gente carenciada, mas mais honesta que estes bandalhos.

Em dado momento a actividade do jornalismo constituiu-se como O VERDADEIRO PODER. Só pela sua acção se sabia a verdade sobre os podres forjados pelos políticos e pelo poder judicial. Agora continua a ser o VERDADEIRO PODER mas senta-se à mesa dos corruptos e com eles partilha os despojos, rapando os ossos ao esqueleto deste povo burro e embrutecido.

Para garantir que vai continuar burro o grande "cavallia" (que em português significa cavalgadura) desferiu o golpe de morte ao ensino público e coroou a acção com a criação das Novas Oportunidades. Gente assim mal formada vai aceitar tudo, e o país será o pátio de recreio dos mafiosos. A justiça portuguesa não é apenas cega. É surda, muda, coxa e marreca.

Portugal tem um défice de responsabilidade civil, criminal e moral muito maior do que o seu défice financeiro, e nenhum português se preocupa com isso, apesar de pagar os custos da morosidade, do secretismo, do encobrimento, do compadrio e da corrupção.

Os portugueses, na sua infinita e pacata desordem existencial, acham tudo "normal" e encolhem os ombros.
Por uma vez gostava que em Portugal alguma coisa tivesse um fim, ponto final, assunto arrumado. Não se fala mais nisso. Vivemos no país mais inconclusivo do mundo, em permanente agitação sobre tudo e sem concluir nada.

Desde os Templários e as obras de Santa Engrácia, que se sabe que, nada acaba em Portugal, nada é levado às últimas consequências, nada é definitivo e tudo é improvisado, temporário, desenrascado. Da morte de Francisco Sá Carneiro e do eterno mistério que a rodeia, foi crime, não foi crime, ao desaparecimento de Madeleine McCann ou ao caso Casa Pia, sabemos de antemão que nunca saberemos o fim destas histórias, nem o que verdadeiramente se passou, nem quem são os criminosos ou quantos crimes houve.

Tudo a que temos direito são informações caídas a conta-gotas, pedaços de enigma, peças do quebra-cabeças. E habituamo-nos a prescindir de apurar a verdade porque intimamente achamos que não saber o final da história é uma coisa normal em Portugal, e que este é um país onde as coisas importantes são "abafadas", como se vivêssemos ainda em ditadura.

E os novos códigos Penal e de Processo Penal em nada vão mudar este estado de coisas. Apesar dos jornais e das televisões, dos blogs, dos computadores e da Internet, apesar de termos acesso em tempo real ao maior número de notícias de sempre, continuamos sem saber nada, e esperando nunca vir a saber com toda a naturalidade.

Do caso Portucale à Operação Furacão, da compra dos submarinos às escutas ao primeiro-ministro, do caso da Universidade Independente ao caso da Universidade Moderna, do Futebol Clube do Porto ao Sport Lisboa Benfica, da corrupção dos árbitros à corrupção dos autarcas, de Fátima Felgueiras a Isaltino Morais, da Braga Parques ao grande empresário Bibi, das queixas tardias de Catalina Pestana às de João Cravinho, há por aí alguém que acredite que algum destes secretos arquivos e seus possíveis e alegados, muitos alegados crimes, acabem por ser investigados, julgados e devidamente punidos? Vale e Azevedo pagou por todos?

Quem se lembra dos doentes infectados por acidente e negligência do Ministério da Saúde Leonor Beleza com o vírus da sida?

Quem se lembra do miúdo electrocutado no semáforo e do outro afogado num parque aquático?

Quem se lembra das crianças assassinadas na Madeira e do mistério dos crimes imputados ao padre Frederico?

Quem se lembra que um dos raros condenados em Portugal, o mesmo padre Frederico, acabou a passear no Calçadão de Copacabana?

Quem se lembra do autarca alentejano queimado no seu carro e cuja cabeça foi roubada do Instituto de Medicina Legal?

Em todos estes casos, e muitos outros, menos falados e tão sombrios e enrodilhados como estes, a verdade a que tivemos direito foi nenhuma.

No caso McCann, cujos desenvolvimentos vão do escabroso ao incrível, alguém acredita que se venha a descobrir o corpo da criança ou a condenar alguém?

As últimas notícias dizem que Gerry McCann não seria pai biológico da criança, contribuindo para a confusão desta investigação em que a Polícia espalha rumores e indícios que não têm substância.
E a miúda desaparecida em Figueira? O que lhe aconteceu? E todas as crianças desaparecida antes delas, quem as procurou?

E o processo do Parque, onde tantos clientes buscavam prostitutos, alguns menores, onde tanta gente "importante" estava envolvida, o que aconteceu? Alguns até arranjaram cargos em organismos da UE.
Arranjou-se um bode expiatório, foi o que aconteceu.

E as famosas fotografias de Teresa Costa Macedo? Aquelas em que ela reconheceu imensa gente "importante", jogadores de futebol, milionários, políticos, onde estão? Foram destruídas? Quem as destruiu e porquê?

E os crimes de evasão fiscal de Artur Albarran mais os negócios escuros do grupo Carlyle do senhor Carlucci em Portugal, onde é que isso pára? O mesmo grupo Carlyle onde labora o ex-ministro Martins da Cruz, apeado por causa de um pequeno crime sem importância, o da cunha para a sua filha.

E aquele médico do Hospital de Santa Maria, suspeito de ter assassinado doentes por negligência? Exerce medicina?

E os que sobram e todos os dias vão praticando os seus crimes de colarinho branco sabendo que a justiça portuguesa não é apenas cega, é surda, muda, coxa e marreca.

Passado o prazo da intriga e do sensacionalismo, todos estes casos são arquivados nas gavetas das nossas consciências e condenados ao esquecimento. Ninguém quer saber a verdade. Ou, pelo menos, tentar saber a verdade.

Nunca saberemos a verdade sobre o caso Casa Pia, nem saberemos quem eram as redes e os "senhores importantes" que abusaram, abusam e abusarão de crianças em Portugal, sejam rapazes ou raparigas, visto que os abusos sobre meninas ficaram sempre na sombra.

Existe em Portugal uma camada subterrânea de segredos e injustiças, de protecções e lavagens, de corporações e famílias, de eminências e reputações, de dinheiros e negociações que impede a escavação da verdade.

Este é o maior fracasso da democracia portuguesa."

Clara Ferreira Alves - "Expresso"

sexta-feira, 11 de março de 2011

E agora seguem-se as reformas...

Grão a Grão, vai a galinha enchendo o papo! Diz o povo e com razão, se bem que neste caso não se tratam de meros grãos de milho e muito menos de galináceos...

De facto, esta medida já se adivinhava como necessária. Aliás, só não foi implantada aquando do corte salarial ocorrido no início do ano aos funcionários públicos, porque mais uma vez a dimensão dos nossos políticos não dá para mais!...ou será que - penso alto, pois de certeza que se trata de mera utopia - a intenção já existindo, foi adiada a bem da anestesia popular e baixar da poeira!?

Bem a questão é que mais uma vez, esta medida não vai chegar, pois paralelamente aos sacrifícios que têm vindo a ser exigidos a toda a população, se continua a assistir a um desfilar de privilégios aos detentores de cargos políticos e gestores por estes nomeados. E isto, em plena vigência das medidas de austeridade! A situação é tão gritante que até o Presidente da República se lhe referiu contundentemente no seu discurso de tomada de posse.

E o mais preocupante é que ainda estamos longe do ponto de viragem. O cumprimento dos objectivos da redução do défice em 2010 foi uma enorme mentira, só possível com a contabilização do Fundo de Pensões da PT! O problema é que os mercados e os detentores de capital não são tontos - pelo menos como o nosso PM nos toma a todos - e vai daí os juros continuam a subir, apesar do cenário idílico com que nos tentam iludir, pasme-se. A questão relevante é que precisamos de pedir dinheiro emprestado para continuar a viver e quem dita as leis de mercado são os credores, não nós e muito menos a estirpe que nos governa.

É claro para mim que não podíamos nem deveríamos ter chegado a este ponto! Eu, à semelhança de muitos outros ditos velhos do Restelo já há muitos anos que perspectivava a chegada deste dia. E continuo plenamente convicto - como gostaria de estar enganado! - que estas medidas, complementadas com a suspensão das grandes obras públicas (aqui o governo ainda não está convencido) não vão ser suficientes para resolver o problema de fundo! A verdade é que vamos continuar a empobrecer de forma dramática e acelerada nos próximos largos anos. Com outra agravante: os responsáveis políticos deste País não têm consciência do descontentamento social que cresce e alastra transversalmente a toda a sociedade!

Quer me parecer que a curto prazo se vai confirmar outro dos meus piores receios....amanhã, nas manifestações da "geração à rasca" já poderemos começar a ter uma noção dessa dimensão...aguardemos!!!

domingo, 27 de fevereiro de 2011

Opções de carreira....nos tempos que correm!




Os especuladores internacionais têm nome: chamam-se Sócrates e Teixeira dos Santos!

Só agora pude ver o Boletim da Execução Orçamental de Janeiro. Verifiquei que o Governo mais uma vez nos quis enganar. De forma primária e grosseira. Em conluio com muita da comunicação social, que transcreve as notas governamentais.

E vi que, onde Sócrates e Teixeira dos Santos mandam e mexem, a Despesa aumenta sem controlo. Até, pasme-se, a Despesa com Pessoal, apesar dos cortes havidos!...

Aqui está o que li e vi (os aumentos referem-se ao período homólogo, Janeiro de 2010).

Despesas do Subsector Estado

Despesa corrente: aumentou 0,7% (aumento nominal e real); Despesa total efectiva: aumentou 0,9% (aumento nominal e real).

Despesas do Subsector Serviços e Fundos Autónomos

Despesa corrente: aumentou 5,1% (aumento nominal e real); Despesa total efectiva: aumentou 6,4% (aumento nominal e real); Despesa com Pessoal, pasme-se: aumentou 7,4% (aumento nominal e real) .

Despesas do Subsector da Segurança Social

Despesa corrente: aumentou 4,9% (aumento nominal e real); Despesa total efectiva: aumentou 4,8% (aumento nominal e real).

Despesas da Administração Local

Despesa primária: diminuiu 5,6% (diminuição nominal e real); Despesa total efectiva: diminuiu 4,9% (diminuição nominal e real).

Execução Orçamental do Estado

Despesa corrente: aumentou 0,7% (aumento nominal e real); Despesa total efectiva: aumentou 0,9% (aumento nominal e real); Despesa com Pessoal, pasme-se: aumentou 4,9% (aumento nominal e real).

A Despesa só diminuiu na Administração Local. Onde Sócrates e Teixeira dos Santos comandam, é só a subir. E se o défice melhorou, foi devido ao confisco feito aos contribuintes, através dos impostos. Situação não sustentável. Porque aumentos de receita de 15%, como em Janeiro, é confisco!!!

Por isso, as taxas da dívida sobem. Os especuladores internacionais têm um nome e morada: chamam-se Sócrates e Teixeira dos Santos e moram em Lisboa. E Ângela Merkel sabe a morada.....

quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

Um país insuportável


"Um país insuportável. A falta de bom-senso e humildade constitui uma das principais causas da degenerescência da justiça portuguesa. Tudo seria simples se houvesse uma coisa que falta cada vez mais aos nossos magistrados: bom senso. Uma mulher com 88 anos de idade morreu no seu apartamento em Rio de Mouro, Sintra, mas o corpo só foi encontrado mais de oito anos depois, juntamente com os restos mortais de alguns animais de companhia (um cão e dois pássaros). Este caso, cujos pormenores têm sido abundantemente relatados na comunicação social, interpela-nos a todos não só pela sua desumanidade mas também pela chocante contradição entre os discursos públicos dominantes e a dura realidade da nossa vida social. Contradição entre promessas e garantias de bem-estar, de solidariedade e de confiança nas instituições públicas e uma realidade feita de solidão, de abandono e de impessoalidade nas relações das instituições com os cidadãos............

Claro que agora aparecem todos a dizer que cumpriram a lei e, portanto, ninguém poderá ser responsabilizado porque a culpa, na nossa justiça, é sempre das leis. É esta generalizada irresponsabilidade (ninguém responde por nada) que está a tornar este país cada vez mais insuportável."

Crónica de Marinho Pinto, leia aqui na íntegra

quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

Jobs for the boys

O populismo é geralmente mau conselheiro em mo­mentos de crise. E o ataque cerrado a todos os que ganham mais, como se aí estivesse a origem de to­das as desgraças, é apenas um dos seus mais genera­lizados sintomas.
Contudo, a aliança entre PS e PSD contra qualquer iniciativa parlamentar para introduzir limites de razoabilidade à remuneração de gestores públicos não pode ser vista como saudável recusa liminar do populismo. É, tão só, o reflexo de como os dois par­tidos do "centrão" estão literalmente reféns da sua rede clientelar.
Argumentar com a necessidade de "atrair os melhores num mercado concorrencial" quando se trata, sobre­tudo e/ou quase sempre, de remunerar boys recruta­dos para gerir empresas que agem em monopólio (ou quase!) ou, simplesmente, se afundam em prejuízos não é mais do que tentar tapar o sol com a peneira. E se o argumento vale para as empresas, como não aplicá-lo a gestores da própria administração, todos eles forçados a cortes radicais dos respectivos salá­rios?

Se dúvidas existissem sobre a bondade da argumen­tação, ela ficou, ontem, bem à vista, em mais um exemplo do descalabro de gestão do sector empre­sarial do Estado. Ficámos a saber pela Comunicação Social que na Rede Eléctrica Nacional, uma das tais empresas públicas a reclamar excelência de gestão, foram, nos últimos tempos, "contratados" oito, sim oito no­vos directores! Alguns já este mês e com remune­ração superior à do Presidente da República! Pagos com os nossos impostos, pois então!... Ao mesmo tempo que os trabalhadores, que denunciavam a situação, reduzi­ram os seus salários! É esta a noção de partilha de sacrifícios de quem nos governa e de quem anseia por governar!!!

Os mercados também sabem estas pequenas histó­rias e sabem que, neste momento, o que se impu­nha era uma solução à espanhola, com uma drástica redução dos quadros dirigentes do sector público e respectivas remunerações.

quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

Bóia de salvação


Ao sair da reunião do ECOFIN, com os ministros das Finanças da UE, o ministro Teixeira dos Santos suplicou que a Europa se despache a desbloquear os novos mecanisnos de ajuda. Traduzido para português corrente, Teixeira dos Santos disse isto: atirem-nos rapidamente a bóia, porque estamos mesmo, mesmo a afogar-nos!

Mas José Sócrates acha que não! Diz que a economia está a regir melhor do que ele tinha previsto! Pasme-se: o PM congratulou-se com a evolução do último trimestre de 2010, exactamente na semana em que o governador do Banco de Portugal veio desfazer as ilusões, dizendo apenas isto: entrámos em recessão. Ponto final.

Cavaco Silva chamou Teixeira dos Santos a Belém, um dia depois de ter recebido o presidente da Comissão Europeia. E os sinais, estão lá todos: caminhamos a passos largos para a rutura. Mas Sócrates não acredita, não quer pedir ajuda ao FMI. Só aceita ajuda do Fundo Europeu!

Coitado, há alguém que lhe explique que nesta altura, a diferença é, cada vez mais, nenhuma!? E que levar o país para o abismo pode ser crime público!?

Coitados de nós!....

sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

J.Paulo II - Santo e um homem normal


"O mundo precisa muito da santidade de João Paulo II". Terá sido este o comentário de Bento XVI, ao anunciar, ao actual Arcebispo de Cracóvia, a beati­ficação do Papa polaco.

Quem o conheceu garante isso mesmo: Wojtyla era um homem fora de série! Mas ele era assim, porque era um homem normal.

Wojtyla foi um brilhante actor de teatro, foi operá­rio fabril, praticou desporto, tinha imenso sentido de humor e, ao mesmo tempo, era profundo, cora­joso e grande devoto de Nossa Senhora. Sabia muito bem aquilo que queria, arriscou tudo ao enfrentar os regimes totalitários e, sobretudo, ao pedir ao mundo para abrir as portas a Cristo. Mas fê-lo com uma tão grande humildade que tudo nele pare­cia normal, evidente, como se fosse fácil ser assim como ele, santo! Foi um dos períodos mais felizes e "humanos" da história da Igreja Católica, em claro contraponto com outras épocas!

A afluência de multidão que já se prevê para o próximo dia 1 de Maio, em Roma, é a prova disto mesmo: que todos queremos, afinal, em nós uma centelha desta humanidade tão atractiva que fez dele um grande Santo.

quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

Rescaldo das Eleições Presidenciais


"Foi um erro de Sócrates, grave, apoiar Manuel Alegre...", Mário Soares, em artigo no DN.

E, digo eu, há quem nunca aprenda com os próprios erros....vide o apoio a Soares nas eleições de 2006!...


Só tenho mais um comentário para finalizar: Estou em completo desacordo com Mário Soares. Sócrates tem acertado sempre, com precisão absoluta, na escolha dos candidatos que o povo rejeita. Por larguíssima maioria!...

terça-feira, 25 de janeiro de 2011

Reeleição de Cavaco Silva como Presidente de Portugal


Com vitória em todos os concelhos do país, com excepção de doze, nove no Continente e três na Ilha da Madeira, Cavaco Silva é bem o Presidente de todo o Portugal. Como em 2006.


E ao contrário dos mandatos de Jorge Sampaio que, se por duas vezes ganhou o país, em ambas sempre perdeu o Norte!...


Nota: A vermelho, no Continente, os 9 concelhos ganhos por Francisco Lopes. José Manuel Coelho ganhou 3 concelhos na Madeira.

terça-feira, 18 de janeiro de 2011

Emissão de dívida: entre a ficção e a realidade...



1.Muito já se disse sobre o resultado da dupla emissão de dívida colocada na semana passada pelo Tesouro Português: dívida a 4 anos (€ 650 milhões) e a 10 anos (€ 599 milhões).

2.E muito do que se disse foi dito – sobretudo nos meios do poder ou a este ligados – em tom de grande regozijo pelos resultados conseguidos nas emissões, ou melhor pelo resultado conseguido na emissão a 10 anos, curiosamente a de menor montante…

3.O PM foi o mais exuberante, proclamando, alto e bom som, que esta colocação de dívida demonstra que não vamos precisar da ajuda externa – coisa que não deveria ter dito pela simples razão de que não se pode concluir daqui nem que vamos nem que não vamos precisar dessa ajuda…

4.Não esquecendo a ajuda, preciosa, que já recebemos do BCE, sem a qual nem dívida haveria...

5.Atentando nos resultados das duas emissões, chega-se a uma conclusão bizarra: em relação às últimas colocações de dívida, nos mesmos prazos, o juro na emissão de 4 anos subiu de 4,0% para 5,4% - 154 pontos base, +35% - enquanto que na emissão a 10 anos baixou muito ligeiramente, de 6,80% para 6,712% (9 pontos base)...

6.Como explicar que em duas emissões de dívida realizadas no mesmo dia se tenham verificado comportamentos tão divergentes das taxas de juro? E que a taxa de juro mais favorável tivesse sido a da emissão a 10 anos, que envolve em princípio maior risco?

7.Sabemos, é claro, que a dívida a 10 anos concitava as atenções do mercado, para saber se ultrapassava ou não a fasquia dos 7%...tendo-se formado um consenso na comunicação social (errado, na minha análise) de que seria inevitável o recurso à ajuda externa, vulgo FMI, caso aquela fasquia fosse excedida.

8.Assim, as atenções concentraram-se quase exclusivamente na dívida a 10 anos, cujo juro não subiu, omitindo-se praticamente a dívida a 4 anos, cujo juro encareceu e muito.
9.Assim a dívida ontem emitida, no seu total, saiu bastante mais cara, mas a leitura política e de muitos comentadores foi no sentido inverso, de que saiu mais barata...

10.O prestidigitador Luís de Matos não teria feito melhor trabalho...

11.Continuamos na senda de preferir a ficção, procurando iludir a realidade - não nos queixemos pois das “surpresas” desagradáveis com que temos sido e iremos ser frequentemente defrontados.