
O Primeiro-ministro tem-se dado ao luxo de falar com uma sinceridade às vezes desarmante, mas alguém devia lembrar-lhe que uma mensagem mal passada, em política, dificilmente se corrige. Passos falou, primeiro, de um desvio colossal nas contas públicas herdadas de Sócrates. Depois, tirou meio vencimento aos portugueses. E seguiu com o corte de dois vencimentos aos funcionários públicos.
Arrumado o murro no estômago, o Primeiro-ministro veio dizer que a receita extraordinária a que recorreu para cumprir o défice - seis mil milhões das futuras pensões dos bancários - lhe deixou um excedente. Ou uma folga ou almofada, como a oposição gosta de dizer. Um excedente, primeiro, de dois mil milhões, e, agora, afinal, de três mil milhões.
Mas se há excedente, porque é que os funcionários públicos não recuperam os seus subsídios, pelo menos, o de Natal? - pergunta meio mundo. E Passos Coelho não está a falar claro, como é exigível aos políticos.
Falar de excedentes é um erro de palmatória, que só dá razão aos socialistas, ansiosos por provar que, afinal, havia folga nas contas públicas. E Passos ainda não disse o óbvio: quando se tem dívidas, não há excedentes! Há dívidas! E começar por pagá-las é o primeiro passo para endireitar a espinha e recuperar credibilidade.
A alternativa, a muito breve prazo, seria, para muitos, não pagar subsídios nem salários. Alguém explique ao Governo que risque do mapa a palavra "excedentes", pois "eles" não existem. Quando a dor aperta, falar claro é, ainda, mais vital!!!
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