quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

Jobs for the boys

O populismo é geralmente mau conselheiro em mo­mentos de crise. E o ataque cerrado a todos os que ganham mais, como se aí estivesse a origem de to­das as desgraças, é apenas um dos seus mais genera­lizados sintomas.
Contudo, a aliança entre PS e PSD contra qualquer iniciativa parlamentar para introduzir limites de razoabilidade à remuneração de gestores públicos não pode ser vista como saudável recusa liminar do populismo. É, tão só, o reflexo de como os dois par­tidos do "centrão" estão literalmente reféns da sua rede clientelar.
Argumentar com a necessidade de "atrair os melhores num mercado concorrencial" quando se trata, sobre­tudo e/ou quase sempre, de remunerar boys recruta­dos para gerir empresas que agem em monopólio (ou quase!) ou, simplesmente, se afundam em prejuízos não é mais do que tentar tapar o sol com a peneira. E se o argumento vale para as empresas, como não aplicá-lo a gestores da própria administração, todos eles forçados a cortes radicais dos respectivos salá­rios?

Se dúvidas existissem sobre a bondade da argumen­tação, ela ficou, ontem, bem à vista, em mais um exemplo do descalabro de gestão do sector empre­sarial do Estado. Ficámos a saber pela Comunicação Social que na Rede Eléctrica Nacional, uma das tais empresas públicas a reclamar excelência de gestão, foram, nos últimos tempos, "contratados" oito, sim oito no­vos directores! Alguns já este mês e com remune­ração superior à do Presidente da República! Pagos com os nossos impostos, pois então!... Ao mesmo tempo que os trabalhadores, que denunciavam a situação, reduzi­ram os seus salários! É esta a noção de partilha de sacrifícios de quem nos governa e de quem anseia por governar!!!

Os mercados também sabem estas pequenas histó­rias e sabem que, neste momento, o que se impu­nha era uma solução à espanhola, com uma drástica redução dos quadros dirigentes do sector público e respectivas remunerações.

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