terça-feira, 26 de julho de 2011

onde está o dinheiro?

1.Achei muito curiosa, por diversos motivos que a seguir explanarei, a posição publicamente manifestada por alguns banqueiros da nossa praça, reivindicando o pagamento das dívidas de que são credores perante o Estado e que este terá acumulado ao longo dos últimos anos.


2.E achei curiosa, em 1º lugar pela forma como foi manifestada essa posição, a qual poderá levar algumas pessoas menos prevenidas a crer que o Estado terá utilizado o crédito bancário contra a vontade dos bancos, o que seria no mínimo surpreendente...não creio que tal tenha sucedido, os bancos financiaram o Estado porque quiseram, porque acharam na altura que seria bom negócio, ninguém lhes terá imposto tal crédito à força...


3.Em 2º lugar, porque não me recordo de uma posição destas dos bancos nos últimos anos, em especial nos últimos 6 em que eles foram especialmente pródigos em conceder crédito ao Estado, enchendo os seus balanços com “toneladas” de dívida pública, crédito a empresas públicas e a parcerias público-privadas...


4.Houve mesmo alguns que ainda não há muito tempo elogiaram publicamente a política de grandes obras públicas, dizendo que era benéfica para o desenvolvimento do País – e que, a ter continuidade, teria levado o Estado a endividar-se ainda mais pesadamente junto da banca...


5.Em 3º lugar, porque as dívidas do Estado perante estes bancos têm, como quaisquer outras, prazos de vencimento, que o Estado não poderá deixar de cumprir, sob pena de ser considerado em “default”...assim aos bancos basta-lhes aguardar pelo vencimento das dívidas do Estado, exigir o reembolso e fica satisfeita a sua vontade...


6.Em 4º lugar porque o Estado não deve apenas aos bancos , também deve às empresas não financeiras – industriais (de construção com especial destaque), comerciais e de serviços – e nestes casos sim, o Estado tem acumulado atrasos de pagamento que são imorais e altamente perversos para o funcionamento normal da actividade económica, gerando fenómenos de endividamento em cadeia (efeito dominó) e arrastando não poucas empresas para a insolvência...7


7.Os bancos poderiam ter-se referido a esta última situação, que também os afecta, pois as dificuldades financeiras das empresas decorrentes dos atrasos do Estado acabam também por se reflectir na sua relação com os bancos, dificultando o cumprimento das suas obrigações financeiras...


8.Em 5º lugar, porque as reclamações dos banqueiros contrastaram com as declarações do Governador do BdeP que aconselhou os bancos a desfazerem-se de activos como forma de reduzir a sua alavancagem e libertarem recursos para a concessão de crédito à economia...


9.Em 6º e último lugar porque eles não ignoram que o Estado, ainda que quisesse pagar aos bancos tudo o que lhes deve nesta altura...não teria obviamente dinheiro para isso! Só se os mesmos bancos lhe emprestassem para ele lhes pagar de volta...


10.Muito curiosa mesmo esta posição dos banqueiros, depois de anos de silêncio...o que os terá movido a manifestar tal posição? Saberão que existe dinheiro escondido nalgum lado?

segunda-feira, 25 de julho de 2011

Ligações perigosas...

Que diferença faz pagar com bilhetes para ir ao futebol ou com um “curso de formação” numa ilha paradisíaca do Pacífico? A razão é a mesma. O suborno e a prescrição de medicamentos.



Os incentivos e os prémios é que variam. As viagens são um esquema há muito conhecido. Das playstations confesso que nunca tinha ouvido falar. Deve ser uma inovação. Para quê prometer muito se quem recebe se contenta com pouco.


É uma vergonha. E sobre o sancionamento destes crimes nem vale a pena dizer nada…

sábado, 23 de julho de 2011

Execução orçamental até Junho: cenário de RISCO, para o cumprimento do défice...

1.Com a divulgação dos dados da execução orçamental até Junho,começa a perceber-se que a redução do défice das Administrações Públicas (Central, Regional e Local) para 5,9% do PIB constitui uma tarefa carregada de RISCOS...


2.Com efeito, concluiu-se agora que a “espectacular “ redução do défice das Administrações Centrais até Maio, reportada pelo anterior Governo no último dia do mandato – de 89,3% (!) com referência ao mesmo período de 2010 – era não apenas “espectacular” mas também virtual...


3.Até Junho, com base em dados bem mais realistas, constata-se uma redução do défice das Administrações Centrais de 33,8% - podendo por exemplo referir-se que só em Junho foram contabilizados encargos com a dívida pública de quase 3 vezes o montante total que tinha sido contabilizado de Janeiro a Maio...até Maio eram € 870 milhões (a famosa técnica de empurrar os juros para a frente...), até Junho são já € 3.008 milhões e mesmo assim menos de 50% do montante orçamentado para o ano (46,7%)...


4.Este ritmo de redução do défice, de 33,8%, caso fosse mantido até final do ano propiciaria um défice da ordem de 6,5% do PIB ou seja 0,6% acima do objectivo...


5.Considerando que a receita do novo imposto extraordinário a arrecadar em 2011 será de € 850 milhões, um pouco menos de 0,5% do PIB, temos pois o objectivo do défice quase à vista...mas muito “à pele”!


6.Mas há que ter em conta que a hipótese de manutenção do ritmo de redução do défice de 33,8% até final do ano é optimista, uma vez que temos estado a assistir a uma rápida desaceleração do crescimento da receita fiscal.


7.Basta dizer que até final de Abril a receita fiscal do Estado crescia 14,9%, até final de Junho a taxa de crescimento já caiu para 5,3%... em dois meses apenas uma desaceleração brutal...


8.E nada nos deverá surpreender que a receita fiscal até ao final do ano, sem considerar o efeito do novo imposto extraordinário, continue a desacelerar como consequência da contracção da actividade económica...


9.Configura-se assim um cenário em que muito provavelmente o Governo terá que lançar mão de medidas especiais de contenção da despesa primária durante o 2º semestre, para evitar uma derrapagem no cumprimento do objectivo de 5,9% do PIB, que seria, manifestamente, a “morte do artista”...


10.Temos assim um cenário de alto RISCO, em que toda a atenção será pouca...percebendo-se também melhor o voto contra o novo imposto extraordinário por parte do PS, uma vez que a consideração do RISCO é qualquer coisa que tem estado sempre ausente nos cenários ROSA...

quinta-feira, 21 de julho de 2011

Aumentos dos preços dos transportes: imprescindíveis, mas é preciso também um PAI...

1.O novo Governo lá vai tomando as medidas previstas no acordo com FMI e U. Europeia, chegando agora a vez dos preços dos transportes públicos, depois do anúncio do imposto extraordinário sobre rendimentos englobados no IRS.


2.Este aumento do preço dos transportes públicos impressiona pela sua expressão relativa – entre 15 a 20% - mas é preciso reconhecer que chega com um enorme atraso, depois do anterior governo ter deixado irresponsavelmente o sector dos transportes públicos a um estado de penúria financeira dificilmente imaginável...


3.Este aumento, apesar de muito duro é também e muito provavelmente insuficientíssimo para resolver o problema do brutal desequilíbrio de exploração e o estrangulamento financeiro a que chegaram as empresas públicas deste sector.


4.Segundo números recentemente divulgados, os prejuízos das empresas públicas do sector dos transportes em 2010 terão ultrapassado os € 1.000 milhões, um valor “record” mas provavelmente subavaliado, denunciando uma situação caótica que tem exigido já, em diversos casos – Refer e Metro do Porto pelo menos – a intervenção directa do Tesouro para solver os compromissos financeiros das empresas, uma vez que o crédito bancário lhes foi cortado...


5.Essa intervenção directa do Tesouro representa um retrocesso de cerca de 25 anos, pois foi em 1986, que as operações de financiamento directo do Tesouro às empresas públicas foram suspensas, passando essas empresas a financiar-se no mercado como as demais.


6.Por isso digo que este aumento, apesar de muito elevado, será ainda insuficiente para ultrapassar os enormes desequilíbrios de exploração e corrigir os níveis brutais de endividamento que as empresas públicas deste sector foram acumulando ao longo de anos a fio...a ver vamos!


7.Há todavia um outro aspecto que não pode ser escamoteado e ao qual o Governo terá de prestar a máxima atenção: estas empresas e em especial os seus dirigentes e quadros superiores não podem continuar a fazer de conta que nada se passa, gastando rios de dinheiro em despesas supérfluas, nomeadamente automóveis e cartões de crédito para uso pessoal, bem como distribuindo benefícios injustificados a empregados (como seja a utilização gratuita do serviço pelos mesmos e seus familiares próximos e remotos)...


8.Trata-se de uma questão de elementar moralidade, que requer um plano também duro e inflexível de aplicação de medidas de poupança, a começar por cortes drásticos nas mordomias que têm sido distribuídas a esmo pelos quadros dirigentes dessas empresas.


9.É indispensável pois que o Governo não perca tempo a definir um Plano de Austeridade Interno (PAI) para estas empresas que contribua, para além dos aumentos dos preços, para o objectivo de reduzir os desequilíbrios económicos e a insuportável dependência financeira das mesmas...

segunda-feira, 18 de julho de 2011

Imposto Extraordinário....para os mesmos de sempre!

Segundo o Ministro das Finanças, três milhões de famílias (65%) não serão "afectadas" pelo imposto extraordinário, 80% dos pensionistas não serão afectados pelo imposto extraordinário, 10% dos trabalhadores dependentes irão pagar 60% da receita prevista de 1025 milhões de euros do extraordinário imposto.

Não é um retrato de justiça fiscal, nem social, devia aliás ser abolida a palavra “justiça” quando se fala em sobretaxas, impostos extraordinários ou as mil e uma formas de ir cortando os proventos de quem (ainda) trabalha, esforçando-se por não se afundar em dívidas.

É o retrato de um país cada vez mais pobre, serão cada vez menos os que “podem” pagar, e cada vez mais os que dependem de salários mínimos, de pensões mínimas, de subsídios que escasseiam, de solidariedades que não chegam para todos.

Um duro retrato social. Ao que chegámos.