terça-feira, 18 de janeiro de 2011

Emissão de dívida: entre a ficção e a realidade...



1.Muito já se disse sobre o resultado da dupla emissão de dívida colocada na semana passada pelo Tesouro Português: dívida a 4 anos (€ 650 milhões) e a 10 anos (€ 599 milhões).

2.E muito do que se disse foi dito – sobretudo nos meios do poder ou a este ligados – em tom de grande regozijo pelos resultados conseguidos nas emissões, ou melhor pelo resultado conseguido na emissão a 10 anos, curiosamente a de menor montante…

3.O PM foi o mais exuberante, proclamando, alto e bom som, que esta colocação de dívida demonstra que não vamos precisar da ajuda externa – coisa que não deveria ter dito pela simples razão de que não se pode concluir daqui nem que vamos nem que não vamos precisar dessa ajuda…

4.Não esquecendo a ajuda, preciosa, que já recebemos do BCE, sem a qual nem dívida haveria...

5.Atentando nos resultados das duas emissões, chega-se a uma conclusão bizarra: em relação às últimas colocações de dívida, nos mesmos prazos, o juro na emissão de 4 anos subiu de 4,0% para 5,4% - 154 pontos base, +35% - enquanto que na emissão a 10 anos baixou muito ligeiramente, de 6,80% para 6,712% (9 pontos base)...

6.Como explicar que em duas emissões de dívida realizadas no mesmo dia se tenham verificado comportamentos tão divergentes das taxas de juro? E que a taxa de juro mais favorável tivesse sido a da emissão a 10 anos, que envolve em princípio maior risco?

7.Sabemos, é claro, que a dívida a 10 anos concitava as atenções do mercado, para saber se ultrapassava ou não a fasquia dos 7%...tendo-se formado um consenso na comunicação social (errado, na minha análise) de que seria inevitável o recurso à ajuda externa, vulgo FMI, caso aquela fasquia fosse excedida.

8.Assim, as atenções concentraram-se quase exclusivamente na dívida a 10 anos, cujo juro não subiu, omitindo-se praticamente a dívida a 4 anos, cujo juro encareceu e muito.
9.Assim a dívida ontem emitida, no seu total, saiu bastante mais cara, mas a leitura política e de muitos comentadores foi no sentido inverso, de que saiu mais barata...

10.O prestidigitador Luís de Matos não teria feito melhor trabalho...

11.Continuamos na senda de preferir a ficção, procurando iludir a realidade - não nos queixemos pois das “surpresas” desagradáveis com que temos sido e iremos ser frequentemente defrontados.

Sem comentários:

Enviar um comentário