Se todos – à esquerda e à direita
– criticam acerrimamente a ousadia do governo, quando se trata de propostas
alternativas o silêncio é igualmente universal. É pena.
A ideia geral com que fica quem
segue o “caso TSU” de forma isenta é que, de um ponto de vista político, o
Primeiro-Ministro geriu a situação de forma desastrosa: falta de união entre os
vários ministros, fraca capacidade de comunicação, etc. Mas se todos – à
esquerda e à direita – criticam acerrimamente a ousadia do governo, quando se
trata de propostas alternativas o silêncio é igualmente universal. É pena.
A regra principal neste debate
deveria ser:
1. Quem critica, que apresente uma
solução alternativa.
2. A solução não pode ser tão vaga
como “que se lixe a troika”.
Vamos então falar de soluções
alternativas. Repudiar a dívida? Se é isso que querem dizer com “que se lixe a
troika”, pois que tenham a coragem de o dizer. A repudiação da dívida
resolveria o problema do défice no curto prazo, mas teria consequências muito
negativas no médio prazo (vide, por exemplo, o caso da Argentina).
Sair do euro? Com a excepção de
uns poucos economistas, não vejo ninguém defender esta solução. Na minha
opinião, a saída do euro não resolveria nada – pelo contrário, criaria ainda mais
problemas. Aliás, há aqui uma certa ironia: os poucos economistas que defendem
a saída do euro lembram que, dispondo Portugal do Novo Escudo, teríamos um
óptimo instrumento – a desvalorização cambial – para evitar o desequilíbrio externo;
mas o efeito da desvalorização cambial é justamente diminuir os salários reais,
a raiz dos protestos contra a medida do governo!
Excluindo estas alternativas mais
drásticas, ficamos perante a realidade simples e crua: durante anos, gastámos mais
– e aqui falo do país, no seu todo - do que produzimos; chegou a altura de
pagar a conta.
Por muito desprezo e ódio que os
portugueses tenham pela “engenharia financeira em curso”, a verdade é que a
crise da dívida soberana e tudo o que ela implica para o sector bancário e para
o financiamento das empresas é algo que tem de ser resolvido com disciplina fiscal.
Que alternativas devermos escolher: despedir funcionários públicos em massa? Aumentar
o IVA? Cobrar propinas?
Não é demasiado tarde para o
governo reconhecer os erros de comunicação que acumulou ao longo de meses,
especialmente nos últimos dias; e para os portugueses compreenderem que: em primeiro lugar, em
economia, o que está em questão não é tanto decidir se uma medida é boa ou má,
mas sim se é melhor ou pior que a alternativa. Depois, que quando gastamos mais do que produzimos, cedo ou tarde a factura chega e, terá de ser paga....