terça-feira, 9 de agosto de 2011

Não são anarquistas, são os contagiados pela crise



A violência que alastra pelos bairros de Londres apresenta como denominador comum jovens, de caras tapadas com lenços e alguns deles trajando de negro. O suficiente para um dos nossos canais de televisão ter alvitrado, na tarde de ontem, que eram anarquistas. Valha-nos Santa Engrácia! Quanto à violência, essa, tem sido a típica dos motins em meios urbanos: incêndios e pilhagens num toca e foge difícil para as forças policiais.


Em primeiro lugar, é preciso recordar que a polícia londrina ainda ostenta a fama de ser bem mais preventiva que repressiva. Podemos, deste ponto de vista, estar descansados em matéria de uso relativo da força. Só não terá ideia disto quem nunca passou um fim-de-semana na capital inglesa.


Em segundo lugar, é preciso recordar que a Inglaterra é um grande país de acolhimento de emigrantes, incluindo compatriotas nossos, e que Londres é verdadeiramente exponencial na exibição que faz dessa combinação de raças, credos e modos de vida. Uma combinação luxuriante em tempos de vacas gordas mas que rapidamente pode descambar em pequenos ódios de estimação capazes de alimentar todas as rixas e descambar mesmo em batalhas campais quando o posto de trabalho passa a ser disputado como se fosse o último lugar à mesa e as regalias do modelo social europeu vão desaparecendo do mapa desta terra prometida.


Sejamos, pois, prudentes. Londres é já ali... O modo como desordens sociais alastram rapidamente em grandes centros urbanos como Londres ou Paris ou Madrid tem dado pano para mangas nas mãos de alguns alfaiates da análise política sempre predispostos a etiquetar tudo e todos. E também a retirar conclusões susceptíveis de alinhar mundividências, geralmente moralistas e sobretudo convenientes a uma certa ideia superior de eurocentrismo. Gente que pretende resolver a intrincada equação dos imigrantes exclusivamente à custa das necessidades dos que chegam sem cuidar de conferir quanto os europeus se serviram deles para garantir superiores padrões de vida, rejeitando trabalhos sujos, precários e duros.


Quando a violência principiou em Tottenham, há três dias, em causa não parecia estar nenhum dos factores sociais negativos da crise, mas, passados três dias, já ninguém acredita que os incêndios, as pilhagens, os feridos e os detidos continuem a alastrar apenas por efeito de um confronto meio anarquista entre jovens e polícias.


Quem assim pensar não irá certamente a tempo de contribuir positivamente para que a crise económico-financeira não contamine os tecidos sociais do multiculturalismo europeu."


Manuel Tavares, in "Jornal de Notícias" de 09/08/2011.

sexta-feira, 5 de agosto de 2011

A gravata...

O acto de abolir as gravatas nos Ministérios de Assunção Cristas não se traduz apenas num acto de se poder andar nos Ministérios sem gravata. É coisa muito mais transcendente. O novo abolicionismo passou a ser um acto "que se poderá traduzir na emergência de novas masculinidades, essas sim fundamentais para mudar de paradigma".

Em itálico, palavras de Elza Pais, Deputada e Doutoranda na Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa na área da violência doméstica.

Por mim, fui mesmo violentado pela Doutoranda. Fui e continuo a ser. Continuo sem perceber a grandiosidade da frase!...

Por mim, não alcanço a grandiosidade da medida tomada. Termino até com um comentário que um Cliente proferiu numa recente reunião de trabalho que tivemos, a propósito desta alteração:

"A medida foi muito bem vinda, de facto o Ministério da Agricultura começou a trabalhar de uma forma mais desenvolta e eficaz! Pois consta que as senhoras - a coberto dos mesmos argumentos - também foram aconselhadas a prescindir das blusas e portanto aquilo agora é só trabalhar!..."

quarta-feira, 3 de agosto de 2011

Exames, um bicho antidemocrático!

O ministro Nuno Crato já anunciou que irá reforçar os exames ao longo do percurso escolar dos alunos.


Completamente de acordo. À distância constato que o nível de exigência de estudo e de trabalho tem sido reduzido de forma drástica nos últimos anos - seguramente 10 anos - em clara oposição com uma aprendizagem que se deseja responsável e sólida!


Mas alguém se admira com as críticas do Bloco de Esquerda e do PCP? O Bloco de Esquerda argumenta que os exames mostram "falta de confiança" no trabalho realizado pelos professores ao longo do ano. O PCP afirma que a "injustiça" dos exames é "evidente" enquanto o Governo não puder garantir "condições iguais", transformando "escolas em centros de formação profissional" e professores em "treinadores" de alunos para responder aos exames.


Argumentos próprios de quem defende o nivelamento por baixo. A ideologia do facilitismo provou o pior.


Agora é tempo de mudar de vida. Mais do que nunca precisamos de um sistema de ensino que ajude a preparar os jovens para os desafios do futuro. Não basta fazer contas de somar com máquina de calcular. O que precisamos, mesmo, é de alterar métodos de trabalho, incutir exigência e empenho e promover uma cultura de responsabilidade. E neste caso não há inocentes...a começar pelos sucessivos governos, passando pelos professores e alunos e terminando nos pais!